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Um olhar sobre o Rugby em Portugal

Escrevo com a esperança de que algumas pessoas, que parecem andar com "palas nos olhos", possam entender a realidade do rugby em Portugal.

Poderíamos discutir política, debatendo as opções da Federação quanto aos Sevens e à forma como é investida a fatia orçamental destinada ao “Desenvolvimento”, mas isso terá que ficar para outra altura. Aqui pretendo apenas apresentar factos e, eventualmente, despontar reflexões.

Comecemos pelo início. Para que uma modalidade cresça em quantidade e qualidade precisa de atletas e de adeptos (sem eles não há patrocinadores). Em 2016 eram 6480 os atletas de rugby federados, em Portugal (17º desporto “mais” praticado no país) - há mais columbófilos que jogadores de rugby.

No nosso país, a oval gira em 20 concelhos. Desses 20, apenas 3 não têm estabelecimentos de ensino superior e a sua população residente oscila entre os 16226 de Montemor-o-Novo e os 504.718 de Lisboa. No Alentejo (onde as Câmaras Municipais são, por norma, o maior empregador – exceptua-se Évora deste cenário), existem 3 clubes (2 no distrito de Évora e 1 no distrito de Portalegre – Distrito de Beja tem 0). No Algarve há apenas uma equipa sénior. No Norte do país, onde a tecido económico é completamente diferente, o número de clubes e equipas tem aumentado.

O Rugby já não tem a popularidade de 2007 e em Montemor já nem sempre há rugby em todos os escalões (Montemor é, entre os 20 concelhos onde se joga rugby, o que menos população residente tem e um dos poucos que não tem estabelecimentos de ensino superior).

Em Montemor nasceu uma geração de jogadores que ganhou tudo o que tinha para ganhar no escalão de Sub-18 e hoje, essa geração ainda parcialmente imberbe, já dá cartas no maior escalão nacional. Essa mesma geração vê-se hoje na iminência de acabar o campeonato nacional de seniores em 9º lugar e a ter que descer para o 2º escalão nacional.

Um clube que sobrevive à conta da carolice e voluntarismo de alguns é hoje um ícone da cidade. Um clube que procura, diariamente, aumentar e melhorar as suas condições num território tão complicado, encontra tantas vezes na FPR um empecilho quando deveria encontrar o maior aliado. E sobre esta última declaração não relembrarei eventos do passado, direi apenas que o clima de instabilidade vivido no rugby nacional deveria ser o primeiro ponto a tratar na lista de afazeres da FPR. Modelos competitivos com 3 ou 4 épocas, sem alterações ad hoc em Abril; garantir a presença de árbitros em todos os jogos oficiais e formar esses mesmos árbitros. No fundo, o mínimo para que os clubes, atletas, instituições que apoiam e colaboram com os clubes e, muito importante, os patrocinadores possam saber com que contar e poderem, também, prever e preparar o dia de amanhã.

Em baixo encontrará uma tabela que elaborei em pouco tempo, consultando apenas o site PORDATA e onde tive em conta dados populacionais e a existência, ou não, de estabelecimentos de ensino superior com o objectivo que enunciei no início deste texto: ilustrar um pouco da realidade de uma modalidade no contexto nacional (bem poderia ter abordado outros dados, como as distâncias percorridas semanalmente por atletas para os treinos do seu clube ou mesmo das distâncias percorridas pelas equipas nas deslocações a jogos fora de casa; dados económicos como o emprego e/ou o número de empresas; entre outros que terão certamente relevância).


(Nesta tabela os "?" dizem respeito ao Prazer de Jogar, Garranos e NR Lousã por não conhecer a sua realidade no que diz respeito à sua independência em relação aos outros clubes das mesmas cidades, nomeadamente a nível de organização e administração.)


Aproveito para deixar uma nota para reflexão: enquanto, aqui ao lado, a Espanha vence a Roménia e prova que está a crescer. Nós ficamos felizes ao vencer Holanda e Suíça e ainda há quem acredite que será Lisboa  a carregar, sozinha, um país às costas até uma fase final do campeonato do mundo.





- Informamos que o artigo é da inteira e exclusiva responsabilidade do autor, uma vez que este blog serve, hoje em dia, para escrever apenas e só sobre rugby.

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